segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Interior com cada vez mais interioridade?...

Nunca, como hoje, fez tanto sentido a célebre expressão "Portugal é Lisboa, o resto é... paisagem..."
E, falo assim porque, efectivamente, durante as últimas décadas todos nós, "resistentes" do Interior de Portugal, fomos abafando as nossas mágoas de coração aberto às expectativas que nos foram criadas, por sucessivos governos, de que um dia haveríamos de ser compensados pelo nosso óbvio subdesenvolvimento, através de medidas de discriminação positiva.
Tem sido, aliás, apanágio de todas as campanhas políticas das últimas décadas o anúncio, "à boca cheia" (como diz o povo), de medidas, extraordinariamente importantes, para o desenvolvimento do Interior de Portugal.
No que ao Distrito da Guarda diz respeito, permito-me destacar como verdadeiramente importantes e na prática, efectivamente executadas, apenas duas grandes medidas, ambas do tempo do Governo do Eng. Guterres. Refiro-me, concretamente, à construção, até à Guarda, das Auto-Estradas A23 e A25, que transformaram a cidade mais alta num importante eixo transfronteiriço (infelizmente mal aproveitado) e à chegada do gás natural ao Distrito, que nos conferiu ganhos enormíssimos, no que diz respeito ao nosso grau de competitividade em termos regionais.
Perdoem-me todos aqueles que discordem mas, além destas duas medidas (acessibilidade/proximidade e aumento de competitividade) o interior continuou o seu caminho rumo a cada vez mais interioridade.
Parece, mesmo, que existe uma barreira psicológica que nos separa do litoral desenvolvido, onde há mais miséria é certo, mas onde há, também, mais oportunidades...
Tem sido fácil, demasiado fácil até, atirar para o ar os grandes chavões do desenvolvimento da nossa região. Tantas vezes se têm apontado o turismo, a natureza, os rios, a paisagem, as aldeias históricas, a serra e as serras e, até, a pureza do nosso ar como solução para ultrapassar todos os obstáculos de crescimento e de desenvolvimento do Interior... Tantas ideias, tantos projectos, tantas perspectivas... mas para quê? Se na hora da verdade o que conta são os números... Efectivamente aquilo que mais nos falta é gente... tanta e tanta gente que se viu (e continua a ver) obrigada pelo destino a cortar as suas raízes à terra que a viu nascer e crescer para ir em busca de uma vida melhor... uma vida que tenha uma qualidade superior àquela que deixa para trás... ou não (pois, infelizmente, nem sempre é assim)...
A gente que partiu e deixou o litoral "a rebentar pelas costuras" é a mesma gente que faz, hoje, tanta falta a estas terras de interior, tão abandonadas, tão perdidas, tão envelhecidas...
O Distrito da Guarda com os seus 180 mil habitantes é uma pequena partícula, se comparado com qualquer Município da grande Lisboa... Por isso, que adianta termos ideias? Que adianta termos projectos? A verdade nua e crua é que continuarão a olhar para nós como a eterna coutada de caça onde apenas vêm para ver a neve, para se divertirem e para se deliciarem com os nossos sabores (o bom queijo da serra e os bons enchidos)... Sejamos honestos. É ou não é assim?!
E, depois, de vez em quando, passam por aqui para nos anunciarem benefícios fiscais para as empresas e mais uns tantos milhõeszecos de euros em investimentos que, tantas vezes, já chegam tarde demais... e outros que chegam mesmo a ser cancelados devido à crise (vejam-se os tão falados IC6, IC7 e IC37 que eu ajudei convictamente a ajudar a anunciar pelo Distrito, enquanto representante do Governo).
Hoje escrevo e falo com mágoa, com muita mágoa... e com a desilusão que apenas pode caracterizar quem um dia ingenuamente acreditou na política... mas, meus amigos, a política é como uma porção mágica, é capaz de permitir a transformação do mundo... tem, no entanto, apenas uma contra-indicação... depende de quem a usa... pois tanto pode ser usada para o bem como pode ser usada para o mal... E, quando a política é usada para o bem sentimo-nos orgulhosos, verdadeiramente realizados com a obra que nasce para serviço e bem estar de todos...
A nossa região de interior necessita hoje, mais do que nunca, de encontrar novos caminhos, novos líderes, novas ideias, novos desafios... E necessita também de novos incentivos, de verdadeiros incentivos à fixação das populações. E as populações só se fixam onde há trabalho, porque onde há trabalho há riqueza e há protecção social.
A empresa "Coficab", uma das poucas resistentes na região, queixava-se esta semana dos prejuízos causados pelos aumentos da energia eléctrica. 
Uma das nossas fragilidades, no que respeita à nossa competitividade, é o elevado custo dos consumos energéticos, fruto da nossa localização em zona de montanha e do frio que por aqui se faz sentir.
Ora se queremos verdadeiramente aumentar a nossa competitividade, atrair empresas para a Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial e fixar população, cabe-nos a todos reclamar como verdadeira medida de discriminação positiva um abaixamento dos custos energéticos (electricidade, gás e combustíveis).  Não nos podemos esquecer que nós, nesta região, por causa das baixas temperaturas gastamos o dobro dos cidadãos do litoral em custos, por exemplo, com o aquecimento.
Estou plenamente convicto de que, assim, poderemos aspirar ser, finalmente, um Interior com cada vez menos interioridade, ou não? Então se os Açores e a Madeira podem beneficiar de regimes de excepção porque é que nós não podemos também? Ai! Já me esquecia, ainda continuamos a aguardar pela Regionalização...

Pedro Pires

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