terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

REFLEXÕES...


             

 
"É necessário que os princípios de uma política sejam justos e verdadeiros."

          (Demóstenes)


Os tempos que vivemos são realmente muito complicados. Bem podem apelidar-nos a todos daquilo que quiserem e muito bem entenderem, mas a verdade é que sentimos que não aguentamos mais…
Não sei de quem é, efectivamente, a culpa da situação a que chegámos. Uns dizem que é de A outros dizem que é de B. Uns acusam fulano, outros acusam sicrano. Mas a verdade é que, aparentemente, tal como ouvi dizer a alguém no outro dia, o ambiente que se vive em Portugal é o de um país em real “Estado de Sítio”, embora política e oficialmente não declarado.
Enquanto muitos debatem o problema da dívida externa e da crise em que vivemos com base na premissa de “quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?”, tentando apurar responsabilidades que são, como não podia deixar de ser, de todos os governos, mais à direita ou mais à esquerda, olvidando que “em política, sempre se deixa um osso para a oposição roer”, como bem disse Joseph Joubert, enquanto isso, os portugueses partem e vão continuando a partir para outras paragens, em busca da prosperidade que, infelizmente, já não conseguem encontrar no seu país. Outros há, ainda, que acabam por ter que se resignar e deixar que a sua família sucumba à desgraça do endividamento e à perda de tudo aquilo que foi a construção de uma vida de trabalho e de sacrifício…
Das infrutíferas discussões políticas com que somos, todos os dias, bombardeados através das televisões sai, quase sempre, a espantosa novidade de que “andámos a gastar demais…” ou de que “gastámos durante muitos anos aquilo que não tínhamos…”
Hoje, mais do que nunca, é preciso que, tal como bem escreveu Demóstenes, os princípios da política sejam verdadeiros e justos. Então não fomos todos, Estado, Famílias e Empresas, incentivados a recorrer à banca e ao crédito, por vezes de formas tão fáceis, que roçaram não só a irresponsabilidade mas, também, a imoralidade de pessoas e instituições? A ordem económica dos mercados nacional, europeu e mundial não foi sempre cantando, em crescendo, “contra o sistema, gastar, gastar”?
Ora, o Povo, como bom discípulo que é, seguiu tudo o que lhe disseram para fazer e “como manda a norma”!
Mas, afinal, os princípios da política nacional, europeia e mundial dos últimos trinta anos não vieram a verificar-se nem verdadeiros, nem justos… e a crise instalou-se, por vontade dos mesmos de sempre…daqueles que gerem o sistema económico mundial…
Sinto, meus caros amigos, que tudo está subvertido…e Portugal, que é o pedaço de terra em que, ainda, nascemos, nos movemos e existimos, vive uma espécie de “Estado de Sítio” silencioso e não assumido… Vivemos numa espécie de estado de pobreza envergonhada que temos dificuldade de assumir.
Enquanto isso, o Povo deixou de acreditar na política e nos políticos. Eu próprio que vivo meio intrometido na política começo a ter sintomas de um certo ceticismo relativamente à inércia, à paralisia galopante que parece ser capaz de calar as vozes e de tolher as vontades daqueles (poucos) que ainda acreditam que se pode encarar a política como a arte de conseguir transformar o sonho numa realidade, ao serviço de todos.
Que se deixe de parte, de uma vez por todas, a política teatral do fingimento e da hipocrisia. Que todos os políticos ou assim-assim (como eu, por exemplo) comecem a encarar os problemas que vivemos com coragem e com determinação, olhando, sinceramente, as pessoas olhos nos olhos, sentindo os seus problemas, partilhando das suas angústias.
Aquilo que me fez, um dia, gostar da política foi o acreditar que através dela se poderiam construir novos pequenos mundos no mundo.
Hoje, sou cético, mas não completamente descrente numa política com princípios de verdade e de justiça.
Deixemos a política de palco e camarins e voltemo-nos para a realidade nua e crua do nosso país, da nossa região, da nossa terra, das nossas famílias. Voltemo-nos para os portugueses e encaremo-los como pessoas, como seres humanos que sofrem, todos os dias, as consequências de uma crise que não pediram, que não previram e de que não têm culpa.
Abafemos as “partidarites agudas” (não as convicções) mas as “partidarites” e possamos reabilitar com as pessoas (não com os números) a face boa (que existe) da política e do sistema político e democrático em que vivemos, só assim podermos sair desta espécie de “Estado de Sítio” que alguns não querem assumir mas que outros (tantos outros) são obrigados a viver e a sentir…

Pedro Pires