quarta-feira, 12 de outubro de 2011

GENTE NOSSA, COM VALOR... PEDRO EMANUEL


PEDRO EMANUEL PUBLICOU "O MAGRIÇO"...
Pedro Emanuel (natural de Gonçalo)
Caros Amigos,
Partilho convosco um artigo escrito sobre uma publicação de que é autor o nosso conterrâneo Pedro Emanuel...  Do Pedro recordo a amizade e um talento natural para as a pintura e para o desenho que impressionava todos os amigos da nossa geração. Lembro, muitas vezes, as brincadeiras e os bons momentos vividos com muitos amigos de sempre... o Vitor Camilo, o João Camilo, o Paulo Gomes, o Luís Robalo, o João Monteiro (filho do GNR)... e tantos outros...
Mais tarde, viemos a reencontrar-nos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra... o Pedro em Filosofia e eu em Línguas e Literaturas... Esta semana tive a felicidade de descobrir na net este artigo que me  fez sentir orgulhoso do meu amigo de infância e da minha terra...
Fica, agora, a faltar a história de Gonçalo em BD... Quem sabe um dia!




"O Magriço (revisitado)
Aventuras de um cavaleiro beirão dos tempos de Aljubarrota, em edição de Banda Desenhada da Quartzo Editora e Câmara Municipal de Penedono

No âmbito do nosso trabalho em prol da Banda Desenhada por terras de Viseu, cumpre-nos registar a recente edição da Quartzo (Editora viseense a dar os primeiros passos nesta área) na difícil área editorial da Banda Desenhada. Conjugaram-se esforços que se materializaram neste álbum de aventuras cavaleirescas com raízes na 
Lenda e na História medievais e nestas terras da Beira.
“O Magriço”, com desenhos de Pedro Emanuel, narra as aventuras do cavaleiro Álvaro Gonçalves Coutinho, ilustre filho de terras de Penedono, ligado à lenda dos Doze de Inglaterra, episódio relacionado temporalmente com a célebre saga da Ala dos Namorados, brilhantemente retratado anteriormente em banda desenhada pela mão de José Manuel Soares com o título “A ala dos namorados “ ( Antologia da BD Portuguesa, n.º 15, Edições Futura 1985, reedição de história publicada no cavaleiro Andante entre 3/3/1956 e 6/10/1956, e onde se faz referência ao grande cavaleiro conhecido por “magriço”), facto que se integra no período conflituoso de guerra da independência contra Castela (Crise de 1383-85).
O episódio dos Doze de Inglaterra, onde se evidencia o papel do cavaleiro “Magriço”, é um exemplo do espírito reinante na época medieval de exaltação dos valores da cavalaria, e que alimentavam o imaginário popular, proporcionando o aparecimento das novelas de cavalaria e de heróis apostados em dar a vida pela defesa da honra e da Pátria. Os cavaleiros que formaram o grupo que partiu em demanda até Inglaterra por alturas de 1390, para defenderem a honra de um grupo de damas ultrajadas, eram originários das terras beirãs, onde se destacava o “Magriço”, cavaleiro que se viria a notabilizar pela sua valentia e bravura em combate e em torneios. O episódio chegou a ser imortalizado por Camões em “Os Lusíadas” (canto I e Canto VI). Embora envolto em lenda, não se pode contestar que o “Magriço” existiu e se notabilizou com altos feitos guerreiros no país e no estrangeiro, como prova a carta de privilégios e concessões passada aos mercadores portugueses em Gand (Flandres) em 1411, por serviços prestados ao Conde da Flandres pelo famoso cavaleiro.
Pedro Emanuel S. Fernandes, natural da Guarda mas a residir em Viseu, apresenta-nos neste álbum um cavaleiro de estirpe, nobre imbuído do mais puro heroísmo e espírito de cavalaria, que respeita solenemente a posição paterna de que “o ultraje é coisa que se paga no gume da espada”. Os ambientes naturais, ou edificados, os gestos que os constroem, os rostos modelados pelo tempo, as tradições que correm risco de extinção são as temáticas preferidas deste jovem autor de bd. Este “Magriço” que nos é representado revela um rosto jovem mas vincado, decorado por aristocrática barba de respeito, fazendo lembrar outro herói desse tempo valoroso, o famoso e contemporâneo Nuno Álvares Pereira, o santo Condestável, e preenche a maioria das vinhetas que transbordam de cores exuberantes e ambientes rudes como as ásperas pedras do castelo de Penedono, imagem iconográfica destas terras recheadas de História.
De traço modesto, simples na composição, por vezes até ingénuo, este trabalho, de inegável importância pedagógica, tem a particularidade de apelar à descrição do essencial, emprestando algum destaque aos que representam na história os grupos mais humildes e não privilegiados da sociedade, os rostos rudes das gentes habituadas às dificuldades de uma vida de risco e de luta pela sobrevivência, num interior afastado dos centros de decisão e da vida de luxo e excitação vivida na corte. A mancha de cores predomina sobre o pormenor dos desenhos, recorrendo predominantemente à aguarela primária para a invocação dos ambientes e dos cenários característicos, com respeito pela preservação da memória e do património histórico, material e imaterial.
Nas palavras do senhor Presidente da Câmara Municipal de Penedono, Carlos Esteves de Carvalho, esta publicação de banda desenhada assume-se como um instrumento de excelência para engrossar a parca documentação histórica sobre Álvaro Gonçalves Coutinho, o “Magriço”, ilustre filho de Penedono, como também servirá de elemento de preservação e divulgação para as gerações vindouras de um património identificador de uma região e de uma população rica de Cultura e de História.
O nosso bem-haja a todos quantos tornaram possível a edição de mais esta obra de banda desenhada de âmbito local(que tem apresentação pública no XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu), em particular à editora Quartzo, por se ter aventurado num panorama de risco editorial que hoje é o mundo editorial da bd em Portugal, e por contribuir desta forma para a narrativa em quadradinhos de mais uma parte importante da nossa história local (recordamos que ainda não existe uma História de Viseu em banda desenhada).
Carlos Almeida – Núcleo Banda Desenhada Gicav"
Publicado em revista Anim'arte, nº 81, Setembro de 2011