segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Somos terra de ninguém?! Ou não somos…

 

                                                                 Distrito da Guarda

Numa das últimas assembleias municipais da Guarda tive oportunidade de apelar a todos os deputados e a todos os partidos para que se unissem, para que dessem “um murro na mesa” e soltassem um forte grito, um grito da Guarda, que ecoasse no terreiro do paço.
Referi, nessa altura, que “não podemos continuar a engolir este silêncio angustiante que mostra a Guarda como uma cidade sem vida, como uma cidade sem gente capaz de elevar bem alto um grito unanime de revolta, com tudo aquilo que nos está a acontecer!”
Algumas semanas depois, constato, com tristeza, que somos mesmo gente conformada e que por força do nosso conformismo a região da Guarda será, a curto prazo, um território abandonado.
Com a morte anunciada de tantas freguesias, sobretudo freguesias rurais, perdemos, aos poucos, mais um pedaço da nossa soberania em extremidades do território onde já não haverá ninguém com a responsabilidade de, pelo menos aos domingos e feriados, hastear a bandeira nacional, símbolo da presença da administração junto dos cidadãos.
Com o fim dos Governos Civis, medida tão aplaudida e acarinhada, cortámos definitivamente a linha direta de contacto entre os cidadãos e o Governo. Todos temos que reconhecer que nunca, como hoje, foi tão difícil para os cidadãos, para as empresas, para as instituições e para as autarquias chegar à fala com o Governo e com os Governantes. Temo que, apesar das facilidades das tecnologias de informação e comunicação, com a extinção da figura dos Governadores Civis, Lisboa tenha ficado mais longe de tudo e de todos… e que deixámos de ter, junto do Governo, uma importante “caixa de ressonância” das nossas legítimas aspirações e dos nossos problemas…
Creio, por isso, que somos, cada vez mais, terra de ninguém, território abandonado, espaço administrativo que vive à conta de si próprio e fechado em silêncio sobre si mesmo, à espera que alguém se lembre que aqui vivem pessoas que têm vidas como todas as outras, que têm problemas, que têm necessidades, que não são apenas um número irrisório de eleitores que pouco “aquenta” ou “arrefenta” na hora de fazer as contas.
O que somos, afinal? Para onde caminhamos?
Somos terra de ninguém?! Ou não somos…

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

É preciso fazer ouvir o "Grito" da Guarda...

Caras e Caros Amigos (as),

Partilho convosco a reflexão que tive ocasião de fazer na Assembleia Municipal da Guarda do passado dia 28 de Setembro de 2012:


«Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia Municipal da Guarda,
Ex.mos Senhores Secretários,
Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal da Guarda,
Senhoras e Senhores Vereadores,
Senhoras e Senhores Deputados Municipais,
Senhoras e Senhores Presidentes de Junta,
Senhoras e Senhores Munícipes,
Comunicação Social presente,
 
Num momento particularmente difícil para o país, para a região e para a cidade da Guarda entendi ser este o local indicado para, publicamente, em meu nome pessoal e em nome da Freguesia de Gonçalo que aqui represento, manifestar os meus sentimentos mais profundos de grande angústia, de grande desilusão e de uma inigualável falta de esperança no tempo presente que vivemos e no amargurado tempo futuro em que havemos de continuar a viver.
Não venho aqui falar de partidos e nem tão pouco ouso falar da política. Prefiro, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, vir falar das pessoas e vir falar, também, das políticas que todos temos obrigação de construir, de engendrar, para a sua proteção e defesa.
A verdade é que enquanto muitas vezes nós discutimos aqui (eu também me incluo) pequenas querelas de pasquim que bem resumidas, no fim, apenas servem para queimar este ou aquele ou para elevar outro ou aqueloutro, enquanto isso, lá fora, no mundo das pessoas, acontece a miséria, acontece o suicídio desesperado, acontece o desemprego sem solução, fecham mais umas tantas empresas que não aguentam mais impostos, nascem crianças sem se saber muito bem com que futuro, desistem jovens de carreiras académicas, que podiam até ser brilhantes, por falta de condições financeiras da família, esmorecem idosos, moribundos, numa silenciosa revolta contra um Estado que não lhe garante uma proteção social minimamente decente.
E nós? O que fazemos nós, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados?
Continuamos, sossegadamente, a entreter-nos nestas discussões político partidárias tantas vezes vazias de conteúdo, tantas vezes inúteis para a resolução dos problemas das pessoas que votaram em nós e que nos elegeram para estarmos aqui.
Mas nós, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, somos capazes de discutir uma vírgula ou um acento durante horas a fio. Somos capazes de pedir defesas da honra, direitos de resposta e sei lá mais o quê só porque, caprichosamente, temos que ser, uns o poder e os outros a oposição.
E as pessoas? E os problemas que nós vemos e sabemos que as pessoas sentem lá fora? O que temos feito de positivo para ajudar as pessoas a ultrapassar os seus problemas? Digam-me, Senhoras e Senhores Deputados, digam-me o que temos feito!
Quantas propostas de solução para os problemas das pessoas da Guarda foram já cordial e unanimemente discutidas pelo poder e pela oposição? Quantas soluções para os problemas dos cidadãos foram já tratadas e discutidas nesta Assembleia a pensar primeiramente nas pessoas, relegando para segundo plano os interesses partidários?
Lamento ter que dizer isto assim desta forma, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, mas esta Assembleia reflete bem o estado de uma cidade e de um concelho incapaz de levantar uma bandeira, incapaz de agarrar uma causa e de se bater por ela contra qualquer governo e contra qualquer partido.
Penso que chegou a hora, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, de assumirmos de vez uma posição de força relativamente a tudo aquilo que de negativo nos tem vindo a ser imposto pelos sucessivos governos deste Portugal democrático.
Não podemos continuar a enfiar discretamente a cabeça na areia e a ignorar o sofrimento das pessoas e das famílias desta terra.
Não podemos olhar para os desempregados da antiga “Delphi” que vão ficar sem subsídio de desemprego a curto prazo e dizer, simplesmente: – “paciência!”; não podemos admitir que o comércio e as pequenas empresas, geradoras dos poucos postos de trabalho existentes, continuem a encerrar e dizer, apenas: – “hão-de vir dias melhores!”; não podemos assistir à extinção de freguesias rurais, último reduto da presença da administração junto das populações e dizer: – “também, já eram tão poucos!”; não podemos assistir passivamente ao esvaziamento de serviços do meio rural e da cidade, justificando: - “também, hoje, com a internet está tudo à distância de um clique!”; não podemos assistir calados a um abandono por parte do Governo do Projeto da PLIE, justificando: - “o que vale é que Salamanca e Aveiro se hão-de entender!”; não podemos admitir que um novo hospital ou um hospital novo esteja eternamente na iminência de abrir as portas ao serviço dos utentes que dele necessitam e dizer: - “mais dia, menos dia ele há-de abrir, quem esperou tanto também pode esperar mais um pouco!”; não podemos admitir que uns tantos tecnocratas habituais do regime venham apontar o encerramento da maternidade da Guarda e dizer: - “não há problema, o que vale a Covilhã fica perto, o pior mesmo são as portagens da A23!”;
Não podemos continuar a engolir este silêncio angustiante que mostra a Guarda como uma cidade sem vida, como uma cidade sem gente capaz de elevar bem alto um grito unanime de revolta, com tudo aquilo que nos está a acontecer!
E não é só ao Presidente da Câmara, aos do poder, aos da oposição, aos Deputados eleitos pelo distrito (que já nem sei bem se ainda existe) que cabe levantar a voz. Este grito da Guarda é responsabilidade de todos e de cada um de nós, cidadãos desta cidade e deste concelho.
E não se trata de gritar contra este Governo, contra o Governo anterior, contra a Assembleia da República, contra o Presidente, trata-se, isso sim, de conseguir dar “um murro na mesa” mostrando que estamos todos unidos por uma única causa: as pessoas da Guarda.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, não me quero alongar mais nesta minha intervenção, mas o momento é de particular sensibilidade.
Temo que com o aproximar das lutas autárquicas, todos, (digo, todos) possamos ceder à tentação fácil de olharmos demasiado para o que é acessório e de desvalorizarmos aquilo que é essencial para as pessoas.
É por isso que este é o momento certo para todos erguermos a voz. É o momento certo para mostrarmos que não somos gente conformada.
Saibamos nós unir esforços e afinar as vozes e o grito da Guarda há-de ouvir-se junto do povo e ecoar no terreiro do paço.
Pelas pessoas da Guarda mostremos, todos juntos, que ainda vale a pena acreditar em quem elegemos, em quem nos representa, na política e nos políticos…

Muito Obrigado!

Pedro Miguel da Silva Pires
Presidente da Junta de Freguesia de Gonçalo »

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Festas da Vila 2012 - Feira de São João - Divulgação do Programa


17º Aniversário da Elevação de Gonçalo a Vila


 Partilho Convosco a Mensagem que dirigi, hoje,  à população de Gonçalo:



Mensagem do Presidente por ocasião das Comemorações do
17º Aniversário da Elevação de Gonçalo a Vila

Meus Caros Concidadãos e Amigos Gonçalenses,
Assinalamos hoje, dia 21 de Junho, o 17º Aniversário da elevação da Freguesia de Gonçalo à categoria de Vila. Celebrar a Vila de Gonçalo é celebrar os Gonçalenses, cada homem e cada mulher, cada idoso, cada jovem, cada criança, cada rosto, mais alegre ou mais entristecido pelas amarguras da vida. Celebrar a Vila de Gonçalo é celebrar a minha gente. Gente de grande valor e com grande garra, gente com quem cresci e aprendi a fazer-me à vida, a aceitar os desafios, a rir nos bons momentos e a chorar naqueles que não me são de feição…
Celebrar a Vila Gonçalo é celebrar, também, com alegria, uma parte da minha própria vida que entreguei, de alma e coração, ao longo da última década, às suas causas, ao seu serviço…
Celebrar a Vila de Gonçalo é lembrar as suas vitórias, tentar ultrapassar e conviver com as suas derrotas, retirar da vontade da sua gente a força necessária para continuar a lutar pelas causas e pelos desafios futuros…
Celebrar a Vila de Gonçalo é ter a possibilidade de sentir, em cada dia, o pulsar de gente de coração grande, de coração generoso, de coração aberto aos tempos do novo Tempo…
O momento que vivemos é para muitos, bem o sabemos, de grande angústia e de grande aflição. Infelizmente, tomáramos todos nós que este momento fosse de “oportunidades” e de “esperança”, como nos dizem ou querem fazer entender.
Mas, a verdade é que (con)vivivemos, em cada dia, com mais receio, com mais incerteza e com mais desemprego.
Todos os dias louvo a Deus pelas nossas raízes tão profundas que nos ligam à nossa terra e que têm livrado a nossa Vila de Gonçalo desse fenómeno de desertificação massiva e repentina que assola tantas Freguesias à nossa volta e na nossa região interior.
Hoje, mais que nunca, reafirmo a minha convicção de que a construção do nosso Centro Escolar foi determinante para retirar do horizonte da nossa terra, de uma vez por todas, essa ameaça entristecedora de ver morrer as nossas terras sem crianças e sem gente.
Hoje, mais do que nunca, penso que foi acertada a nossa estratégia de investimento, forte, em áreas tão sensíveis e essenciais para o progresso humano como a cultura e a educação.
Não posso deixar, no entanto, de salientar e de lamentar, profundamente, que para a Câmara Municipal da Guarda e para o Governo Central deste país a programação e dinamização do Edifício Cultural de Gonçalo (a grande casa do Povo de Gonçalo – espaço de cultura, de saber e de convívio) não seja uma prioridade.
A crise não pode ser desculpa para tudo!... E a verdade é que, tal como dizia o Pe. António Vieira, mais uma vez “os grandes comem os pequenos”…
Ainda assim, estou convencido que a crise vai passar e que aquele espaço cultural com que tanto sonhámos e que construímos com tanta vontade e convicção voltará a ser referência cultural.
Mas o que se fez e o que se construiu é passado… e para a Vila de Gonçalo o mais importante será, sempre, o futuro.
Por isso, por ocasião desta data tão importante gostaria que soubessem que amo a minha terra como a minha própria vida e com um amor que vem cá de dentro, do meu ser, da minha alma…
Naturalmente que estas palavras carregadas de sentimento e de paixão vo-las hei-de dizer e repetir, cara a cara, olhos nos olhos, daqui a pouco mais de um ano, no momento em que estiver para cessar, definitivamente, o exercício das minhas funções de vosso Presidente de Junta.
Mas achei que era oportuno e importante dizer-vos, neste momento, que todos vós, meus amigos Gonçalenses, sois realmente importantes para mim.
Caminho a passos largos para o final do meu ciclo de trabalho à frente dos destinos da Vila de Gonçalo, uma terra que cresceu e é hoje (independentemente das suas limitações) uma Freguesia que ganhou uma nova centralidade no sul do concelho da Guarda.
Mas se é verdade que o que faz um bom filme não é o guião, mas sim a qualidade dos actores que o interpretam, permitam-me uma palavra de agradecimento ao trabalho e ao sacrifício da equipa que me tem acompanhado no executivo da Junta de Freguesia de Gonçalo, com lealdade e solidariedade, ao longo desta década de trabalho.
Celebrar 17 anos de vida significa, também, caros amigos, que a nossa Vila atingirá, em breve, “a maioridade”. Para o ano celebraremos uma Vila de Gonçalo “maior” que terá que ser capaz de dar mais um passo em frente, de iniciar mais um caminho na sua história, com a garra do seu povo, com o seu inconformismo natural, com a irreverência que a caracteriza e com os sinais e as evidências dos novos Tempos…
Para o ano a Vila de Gonçalo caminhará sem medo, nos trilhos certos (assim eu penso) deixados na Terra nos momentos certos que hão-de fazer sentido algum dia, num futuro próximo de nós…
Viver este momento de festa tem que despertar em nós, Gonçalenses, sentimentos de alegria e de orgulho por tudo aquilo que somos e pela Vila de Gonçalo que construímos.
É certo que nos falta o emprego enquanto factor de competitividade e de riqueza e é verdade que não têm tido sucesso as nossas inúmeras tentativas de recuperar a cestaria, mais do que como uma identidade, como um modo de vida e de trabalho para a nossa terra e para a nossa gente. Se muito temos feito nesta matéria, embora sem os resultados desejados, muito mais há, ainda, para fazer, pois nunca é tarde para recomeçar um trabalho ou reajustar uma estratégia. E, como bem escreveu um dia Miguel Torga: “Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”
Tudo está em aberto… e há muitos dados lançados, muitos projetos abraçados que ainda poderão vir a dar bons frutos. Não há que ter medo de recomeçar…
Neste dia de comemorações em que lembramos a história da nossa terra e invocamos o povo que com as suas acções a escreveu ao longo dos anos, permitam-me que invoque a memória do homem que liderava os destinos desta terra no ano em que Gonçalo foi elevado a Vila, em 21 de Junho de 1995.
Permitam-me que invoque a memória do Presidente Amadeu Pereira Bidarra, que este ano nos deixou, e que sublinhe aqui o elevado sentido de responsabilidade e dedicação com que governou a Vila de Gonçalo durante mais de duas décadas.
Permitam-me, também, uma palavra especial aos nossos emigrantes e também aos nossos migrantes que espalhados pelo país e pelo mundo não deixarão de se querer associar a este importante momento de celebração e de união de todos os Gonçalenses.
A vida e os seus contornos fez com que muitos, ao longo dos anos, se afastassem da nossa terra mas, onde quer que se encontrem, carregam no peito o mesmo sentimento de amor à nossa Vila de Gonçalo, esse sentimento forte que nos une enquanto povo.
Sinto que já vai longa esta minha pequena mensagem e por isso terei forçosamente que me aproximar do seu fim.
E, no fim, só posso falar de futuro… pois, tal como já foi dito anteriormente, à nossa Vila de Gonçalo interessa, apenas, o futuro…
E, é nesse sentido que reafirmo a minha disponibilidade para continuar a trabalhar, conjuntamente com os meus colegas de executivo, com o mesmo afinco, com a mesma ambição, com a mesma determinação e com a mesma convicção de sempre, até ao último dia do mandato para o qual, vós Gonçalenses, nos elegestes com clareza e objectividade. (Afinal, ainda falta concluir, entre outras coisas, as obras da Avenida e inaugurar a Sede do nosso querido Sport Clube Gonçalense).
Neste momento em que evocamos o 17º Aniversário da Elevação de Gonçalo a Vila, reitero o meu compromisso leal e verdadeiro para com cada um dos Gonçalenses, pois sempre senti o conforto de ser o Presidente de todos e para todos.
Gonçalo, no futuro, há-de ser aquilo por que nós, teimosamente lutemos, com ambição e determinação. Afinal de contas somos “terra de artistas com arte que impõem em toda parte o seu saber bem patente” e Gonçalo terá sempre “a sua fé no destino, pois apesar de pequenino, tem alma que vibra e sente”
Mas, porque é de futuro que falamos, não resisto a fazer minhas as palavras de Fernando Pessoa e que muito espelham os meus pensamentos:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
Que ao celebrar o 17º Aniversário da Elevação de Gonçalo a Vila todos festejemos alegremente a nossa terra, pois tenho a certeza de que a Vila de Gonçalo é o grande orgulho de todos os Gonçalenses que a sentem e vivem verdadeiramente.
Parabéns a todos!
Viva a Vila de Gonçalo!
Vivam os Gonçalenses!

Gonçalo, 21 de Junho de 2012

O Presidente da Junta

  Pedro Miguel da Silva Pires

terça-feira, 3 de abril de 2012

Ei-los que partem... In Memoriam 1


Foi com imensa tristeza que vi partir no passado dia 11 de Fevereiro a nossa conterrânea Ana Alexandrina de Matos Carvalhinho, conhecida entre nós como "Aninha Balota" (assim a chamávamos com carinho).
Confesso que sempre olhei para Aninha Balota com profunda admiração, embora, em vida, nunca tenha tido a oportunidade certa de lho confessar.
Militante do PCP - Partido Comunista Português, a que aderiu desde a primeira hora, lutou como tantos outros militantes comunistas de Gonçalo pela Liberdade e pela Democracia, em tempos em que poucos tinham coragem de assumir convicções, muito menos as mulheres que, por regra, estavam,  desde logo, arredadas da política... e do simples direito de opinião.
Mas Aninha era diferente. Era uma jovem mulher consciente da sociedade em que vivia. E, sabia que muito havia que mudar na fechada sociedade salazarista.
Quando muitos se calavam por medo e por cobardia, Aninha Balota e os seus camaradas de partido erguiam a voz e diziam ao povo operário de Gonçalo que era preciso lutar pelos valores da Liberdade e da Democracia.
Eu não era vivo nesse tempo, mas imagino a genica desta mulher, praticamente sozinha, no meio de tantos homens a fazer política... a passar palavra... certamente a distribuir o "Avante" e no sigilo da noite a tentar sintonizar e ouvir os ecos da "Radio Moscovo".
Mais tarde, recordo Aninha sempre de cravo na lapela, nas manifestações (infelizmente agora adormecidas) do 25 de Abril e do 1º de Maio que, em cada ano, metiam foguetes, arruadas e provas desportivas para o povo...
Infelizmente, aos 84 anos de idade Aninha partiu, mas pela sua coragem e pela ousadia das suas ações,  num tempo em que quase tudo era vedado às mulheres, muito mais a participação cívica e política, ficará, certamente, na memória dos Gonçalenses...
Pelo menos ficará na minha memória... como uma mulher de coragem que não teve medo de enfrentar o regime para falar aos outros de liberdade e de democracia.
Tenho pena que Aninha tenha partido sem que eu tivesse tido a oportunidade de lhe dizer estas palavras que hoje, aqui, partilho convosco no Olival do Corro.

Pedro Pires


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

REFLEXÕES...


             

 
"É necessário que os princípios de uma política sejam justos e verdadeiros."

          (Demóstenes)


Os tempos que vivemos são realmente muito complicados. Bem podem apelidar-nos a todos daquilo que quiserem e muito bem entenderem, mas a verdade é que sentimos que não aguentamos mais…
Não sei de quem é, efectivamente, a culpa da situação a que chegámos. Uns dizem que é de A outros dizem que é de B. Uns acusam fulano, outros acusam sicrano. Mas a verdade é que, aparentemente, tal como ouvi dizer a alguém no outro dia, o ambiente que se vive em Portugal é o de um país em real “Estado de Sítio”, embora política e oficialmente não declarado.
Enquanto muitos debatem o problema da dívida externa e da crise em que vivemos com base na premissa de “quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?”, tentando apurar responsabilidades que são, como não podia deixar de ser, de todos os governos, mais à direita ou mais à esquerda, olvidando que “em política, sempre se deixa um osso para a oposição roer”, como bem disse Joseph Joubert, enquanto isso, os portugueses partem e vão continuando a partir para outras paragens, em busca da prosperidade que, infelizmente, já não conseguem encontrar no seu país. Outros há, ainda, que acabam por ter que se resignar e deixar que a sua família sucumba à desgraça do endividamento e à perda de tudo aquilo que foi a construção de uma vida de trabalho e de sacrifício…
Das infrutíferas discussões políticas com que somos, todos os dias, bombardeados através das televisões sai, quase sempre, a espantosa novidade de que “andámos a gastar demais…” ou de que “gastámos durante muitos anos aquilo que não tínhamos…”
Hoje, mais do que nunca, é preciso que, tal como bem escreveu Demóstenes, os princípios da política sejam verdadeiros e justos. Então não fomos todos, Estado, Famílias e Empresas, incentivados a recorrer à banca e ao crédito, por vezes de formas tão fáceis, que roçaram não só a irresponsabilidade mas, também, a imoralidade de pessoas e instituições? A ordem económica dos mercados nacional, europeu e mundial não foi sempre cantando, em crescendo, “contra o sistema, gastar, gastar”?
Ora, o Povo, como bom discípulo que é, seguiu tudo o que lhe disseram para fazer e “como manda a norma”!
Mas, afinal, os princípios da política nacional, europeia e mundial dos últimos trinta anos não vieram a verificar-se nem verdadeiros, nem justos… e a crise instalou-se, por vontade dos mesmos de sempre…daqueles que gerem o sistema económico mundial…
Sinto, meus caros amigos, que tudo está subvertido…e Portugal, que é o pedaço de terra em que, ainda, nascemos, nos movemos e existimos, vive uma espécie de “Estado de Sítio” silencioso e não assumido… Vivemos numa espécie de estado de pobreza envergonhada que temos dificuldade de assumir.
Enquanto isso, o Povo deixou de acreditar na política e nos políticos. Eu próprio que vivo meio intrometido na política começo a ter sintomas de um certo ceticismo relativamente à inércia, à paralisia galopante que parece ser capaz de calar as vozes e de tolher as vontades daqueles (poucos) que ainda acreditam que se pode encarar a política como a arte de conseguir transformar o sonho numa realidade, ao serviço de todos.
Que se deixe de parte, de uma vez por todas, a política teatral do fingimento e da hipocrisia. Que todos os políticos ou assim-assim (como eu, por exemplo) comecem a encarar os problemas que vivemos com coragem e com determinação, olhando, sinceramente, as pessoas olhos nos olhos, sentindo os seus problemas, partilhando das suas angústias.
Aquilo que me fez, um dia, gostar da política foi o acreditar que através dela se poderiam construir novos pequenos mundos no mundo.
Hoje, sou cético, mas não completamente descrente numa política com princípios de verdade e de justiça.
Deixemos a política de palco e camarins e voltemo-nos para a realidade nua e crua do nosso país, da nossa região, da nossa terra, das nossas famílias. Voltemo-nos para os portugueses e encaremo-los como pessoas, como seres humanos que sofrem, todos os dias, as consequências de uma crise que não pediram, que não previram e de que não têm culpa.
Abafemos as “partidarites agudas” (não as convicções) mas as “partidarites” e possamos reabilitar com as pessoas (não com os números) a face boa (que existe) da política e do sistema político e democrático em que vivemos, só assim podermos sair desta espécie de “Estado de Sítio” que alguns não querem assumir mas que outros (tantos outros) são obrigados a viver e a sentir…

Pedro Pires