segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Gente nossa, com valor: FERNANDO NELAS - Cesteiro

Fernando Nelas - Foto KaminhosMagazine
"A Arte da Vida consiste em fazer da Vida uma Obra de Arte"
Mahatma Gandhi

Normalmente, fruto da própria natureza humana, tendemos a render as nossas homenagens e a promover aquilo que de bom as pessoas fazem a título póstumo. Deixamos por dizer um número considerável de palavras e por exprimir um número ainda maior de sentimentos durante a vida das pessoas para, depois, em face da sua morte terrena virmos a terreiro dizer que "fulano" ou "beltrano" foram os melhores do mundo e arredores.
Eu cá não sou dessa opinião! E, é precisamente por achar que as pessoas devem ser valorizadas enquanto vivem, sentem e existem neste nosso mundo que decidi, por minha livre iniciativa, homenagear, na simples qualidade de amigo, o nosso conterrâneo Fernando Nelas.
Se há gente com valor na nossa terra de artistas com arte, uma dessas pessoas é, precisamente, o Fernando Nelas.
Se pensarmos bem, a pouco e pouco, temos visto desaparecer, com saudade, muitos dos nossos artistas...
Ter a honra de me poder contar entre os amigos do Fernando Nelas dá-me a possibilidade de falar dele com algum conhecimento e de o poder descrever como uma verdadeira "força da natureza". Se há alguém em Gonçalo em que se consegue identificar o poder da alma de um cesteiro, esse alguém é o amigo Fernando Nelas.
Cesteiro desde os 10 anos de idade, os cestos estão-lhe no sangue que lhe corre nas veias. O vime, a liaça, o estacado, a cortiça, a gamela, a tesoura, o furador, a rachadeira, a fieira, o martelinho e os pregos foram os seus materiais da escola, em tempos em que o labor falava bem mais alto do que o conhecimento, do que a formação e do que a aprendizagem. Aliás, no que respeita a aprendizagem apenas se vislumbrava a da arte...
Cresceu, como tantos outros cesteiros Gonçalenses entre os cestos e as oficinas foram, em grande parte, os seus bancos de escola.
Se valeu a pena amigo Fernando?! Como bem escreveu o poeta, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". E a sua alma Fernando, bem sabemos, todos nós, é de uma dimensão que ultrapassa a bondade dos homens e se assemelha à grandiosidade da arte que, diariamente, lhe sai das mãos, com a mesma facilidade com que um poema sai da pena de um poeta.
O Fernando Nelas pode não ser o nosso maior artista... Todos sabemos que na galeria dos melhores se inscrevem nomes importantes de grandes artistas que muito prezo e admiro, alguns ainda connosco, como é o caso dos nossos conterrâneos Armando Carvalhinho ou José Amaral. Mas uma coisa é certa, o nome de Fernando Nelas há-de ficar perpetuado no tempo (o próprio tempo o dirá) pela coragem, pela genica, pela força, pelo engenho e pelo verdadeiro sentido de inovação e de desafio dos próprios limites da arte da cestaria.
Das mãos do Fernando Nelas saíram castelos, casas, barcos, aviões, cestos gigantes, águias, leões, estátuas, andores... como se tudo fosse, derrepente, possível num universo de arte e de artistas que parecia caminhar, paulatinamente, para o vazio...
O nosso amigo Fernando Nelas pode não ser o melhor e o mais perfeito dos cesteiros Gonçalenses, mas será para sempre recordado, disso não tenho dúvidas, como o mais empreendedor e o mais criativo do nosso tempo...
Um abraço amigo ao Fernando Nelas porque ele é, sem qualquer sombra de dúvidas, gente nossa, com muito valor...

Saudações para todos, a partir do nosso Olival do Corro!

Pedro Pires

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Hoje Gonçalo foi notícia na televisão e por boas razões...

Centro Escolar de Gonçalo

Hoje cá pelo Olival do Corro podemos dizer que todos estamos contentes! A verdade é que a maior parte das vezes as terras do interior só são notícia por alguma má razão... Mas a nossa Vila de Gonçalo hoje foi notícia no Programa "Portugal em Directo" da RTP1 e pelas melhores razões...
O tópico de abertura do Programa deixou logo antever as boas razões da visita da RTP, em directo, à nossa terra: "Hoje vamos conhecer o Centro Escolar de Gonçalo apontado com um exemplo a nível nacional no combate à integração e à desertificação do território..."
Ao ouvir isto, não resisti à tentação de parar e pensar... - A Dona Dina tem, efectivamente, razão... construímos mesmo um equipamento de futuro!
Seria hipócrita se não dissesse que senti um arrepio fininho quando pensei nesta ideia. Quem me dera que alguns companheiros Gonçalenses que frequentam aqui o Olival do Corro pudessem sentir, pelo menos, uma pequena ponta de orgulho pelo belíssimo equipamento educativo que temos na nossa Vila! Certo é, acreditem ou não, que muitos há que, até hoje, nunca sequer lá puseram os pés! Tenho pena... sentir-se-iam mais felizes e certamente mais orgulhosos da terra...
Às vezes têm que ser os outros a valorizar e a invejar o que é nosso... Tenho pena! Mas a vida é mesmo assim.
O futuro acaba por me fazer sorrir... pois tenho a certeza que "atrás de nós virá quem nos julgará" - diz o povo e muito bem... e estas crianças que por ali correm, soltas e alegres, julgar-nos-ão bem... não duvido! E serão crianças diferentes, que hão de construir uma terra diferente (melhor, espero eu)!

Ficam os link's do Programa da RTP1 para quem não teve oportunidade de ver!
Vale a pena dar uma espreitadela...

http://ww1.rtp.pt/multimedia/progVideo.php?tvprog=19455&idpod=44531&partes=1

http://ww1.rtp.pt/multimedia/progVideo.php?tvprog=19455&idpod=44532&partes=2

Saudações Cordiais e Amigas...

Pedro Pires

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

E pronto, mais uma Festa de Setembro que terminiou(?)...


Procissão de N.Sra. da Misericórdia (08.09.2010) - Foto Jorge Carvalhinho
Durante cinco dias foi grande a agitação na nossa Vila de Gonçalo e, mais uma vez, o nosso Olival do Corro foi o palco central das Festividades em honra de Nossa Senhora da Misericórdia. Nesse sentido, não podíamos deixar de noticiar no nosso blogue os importantes acontecimentos que tiveram lugar, aqui, no Olival do Corro.
Desde o final de Agosto que foi grande a azafama, aqui, no largo. Ele foi montar o palco, as barraquinhas de apoio, a Quermesse e tantos outros apetrechos que são necessários para que a nossa Festa de Setembro aconteça... enfim, uma semana agitada que fez, desde logo, notar que era tempo de Festa na terra...
Depois, foi a vez de surgirem os primeiros cartazes com o programa das Festas e com eles a primeira leva de críticas e comentários... nada de muito anormal! Afinal de contas, as críticas e os comentários também fazem parte da Festa!...
E...num abrir e fechar de olhos a Festa de Setembro começou e terminou... Foram cinco dias de muita animação e convívio. Aqui o largo esteve sempre bem composto de gente (mas,claro, o sábado foi de longe o melhor dia!)
Na verdade a Festa de Nossa Senhora da Misericórdia demonstrou ser aquilo que sempre foi. Momento alto da vida da terra... e com mais ou menos dose de "tradição", com banda de música e sem foguetes porque estamos em época de grande probabilidade de incêndios (e não fossem os Bombeiros co-organizadores das Festividades!)  a verdade é que os Gonçalenses (pelo menos alguns) puderam conviver, puderam divertir-se e puderam sentir junto da imagem de Nossa Senhora e durante as cerimónias religiosas o calor da sua fé que, não raras vezes, lhes serve de acalento da alma...
Naturalmente que estão de parabéns as colectividades da nossa terra (Sport Clube Gonçalense e Bombeiros Voluntários de Gonçalo) que, no curto espaço de apenas 15 dias, conseguiram organizar com muita dignidade, dedicação e algum sacrifício a nossa Festa de Setembro.
Como em tudo na vida, também agora é preciso olhar para trás e fazer um balanço daquilo que correu bem e daquilo que, porventura, correu mal.
Nós por cá achamos que o programa das Festas foi um programa muito digno da nossa terra e que em nada envergonhou a alma Gonçalense...
Há, no entanto, para aí muito quem fale e muito quem critique, mas a ver vamos se para o ano que vem também haverá muito quem faça e proponha, com mais ou menos "tradição", com andor em verga ou com o andor das bolinhas, com santos ou sem santos dos bairros a acompanhar a procissão, com mais conjuntos ou menos conjuntos, com mais artistas ou mesnos artistas...enfim, cá ficaremos a aguardar pelo momento fulcral em que os grupos de amigos, familiares ou conhecidos deixem de falar, discutir e debater se a crise de mordomos para a Festa de Setembro se deve, verdadeiramente, às ditas "alterações à tradição" ou a um profundo laxismo e a uma desmesurada acomodação que vão graçando entre alguma da nossa gente...
Tendo em conta a hipocrisia de alguns comentarios e de algumas críticas que temos vindo a ouvir, poderíamos mesmo afirmar que a crise de mordomos para a Festa pode, isso sim e muito bem, ter origem nesse sentimento de algum receio das críticas e dos comentários saloios que muitos vão atirando para o ar e que, muitas vezes, demasiadas vezes, magoam e ofendem aqueles que sacrificam as suas vidas e o espaço das suas famílias para proporcionar à comunidade o divertimento, o convívio e a festa!
Comentários como: "que raio de banda tão pequena, até é uma vergonha para uma terra destas" ou ainda: "não me digas que estás cansado! Vê lá se não estás mas é abafado com o fumo dos foguetes" ou melhor "que raio de andor que parece um caixão! Pode ser que sirva para levar lá dentro quem o encomendou" - Quando se atiram para o ar palavras tão loucas (Meu Deus!), torna-se muito difícil, acreditem, fazer (como o ditado diz) orelhas mocas.
É, pois, por isso que exprimo, aqui e agora, no Olival do Corro a minha opinião. Será que vale assim tanto a pena discutir e debater a problemática da Festa de Nossa Senhora da Misericórdia?! Será que a tal "problemática" não começa logo na necessidade de uma verdadeira revolução na mentalidade da nossa gente?!
Outr'ora destacámo-nos de todas as terras, terrinhas, cidades e cidadezinhas... pela abertura do nosso espírito e pela vanguarda do nosso pensamento, fruto das vivências dos movimentos sazonais com os grandes centros e com o litoral, na comercialização dos nossos cestos...
No presente, tenho que admití-lo, às vezes parecemos uma espécie de "atrasadinhos", fechados dentro de uma redoma e envolvidos por um passado que já não volta e agarrados a "tradições" que contrariam os novos tempos em que vivemos e existimos (Hei! Estamos no Séc.XXI! E já não andamos de burro e nem de carroça!)... E, somos, até, capazes de renegar, imagine-se, a nossa arte... a nossa identidade... Ou será que não é isso que fazemos quando rejeitamos os andores em verga?! Não poderá a nossa fé e a nossa religião estar ao serviço da promoção da nossa arte, da nossa identidade de cesteiros?!
Perdoem-me a franqueza, mas sinto-me por demais magoado e ofendido (eu tantos outros que trabalham todos os dias com afinco e dedicação) com más palavras que o vento há-de levar, mas que o coração, esse, pelo amor à terra, não deixará de sentir!
O futuro é sempre incerto, por vezes demasiado incerto, mas pensamos que é chegado o momento de, também nós, podermos avaliar, construtivamente, o trabalho de outros... assim haja gente que se proponha a falar menos, a perder demasiado tempo em aspectos irrelevantes e a fazer mais... a fazer mais com "F" grande... a fazer de verdade alguma coisa pela sobrevivência da nossa Festa.
E não vale a pena tentar atirar para o ar os argumentos do costume... porque a Festa será aquilo que quem a organizar quiser... e decorrerá da forma como quem a organizar quiser... Aliás, as inovações das últimas comissões são a real prova disso mesmo!
Até lá, o meu espírito ficará tranquilo e nem sequer me preocuparei com as vozes que vão ecoando pela vila e, naturalmente, também aqui pelo olival do corro, pois como dizia o meu saudoso amigo António Amaral (ferforoso adepto da demonstração da nossa arte nos nossos andores e da mudança da festa para o fim-de-semana): "os críticos são sempre os mesmos...e são poucos...apenas tentam gritar mais alto para se fazerem ouvir e parecerem muitos..."
Acho que vale, realmente, a pena pensar nisto...
Fiquem bem...

Saudações Cordiais e Amigas, a partir do nosso Olival do Corro,

Pedro Pires