segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Somos terra de ninguém?! Ou não somos…

 

                                                                 Distrito da Guarda

Numa das últimas assembleias municipais da Guarda tive oportunidade de apelar a todos os deputados e a todos os partidos para que se unissem, para que dessem “um murro na mesa” e soltassem um forte grito, um grito da Guarda, que ecoasse no terreiro do paço.
Referi, nessa altura, que “não podemos continuar a engolir este silêncio angustiante que mostra a Guarda como uma cidade sem vida, como uma cidade sem gente capaz de elevar bem alto um grito unanime de revolta, com tudo aquilo que nos está a acontecer!”
Algumas semanas depois, constato, com tristeza, que somos mesmo gente conformada e que por força do nosso conformismo a região da Guarda será, a curto prazo, um território abandonado.
Com a morte anunciada de tantas freguesias, sobretudo freguesias rurais, perdemos, aos poucos, mais um pedaço da nossa soberania em extremidades do território onde já não haverá ninguém com a responsabilidade de, pelo menos aos domingos e feriados, hastear a bandeira nacional, símbolo da presença da administração junto dos cidadãos.
Com o fim dos Governos Civis, medida tão aplaudida e acarinhada, cortámos definitivamente a linha direta de contacto entre os cidadãos e o Governo. Todos temos que reconhecer que nunca, como hoje, foi tão difícil para os cidadãos, para as empresas, para as instituições e para as autarquias chegar à fala com o Governo e com os Governantes. Temo que, apesar das facilidades das tecnologias de informação e comunicação, com a extinção da figura dos Governadores Civis, Lisboa tenha ficado mais longe de tudo e de todos… e que deixámos de ter, junto do Governo, uma importante “caixa de ressonância” das nossas legítimas aspirações e dos nossos problemas…
Creio, por isso, que somos, cada vez mais, terra de ninguém, território abandonado, espaço administrativo que vive à conta de si próprio e fechado em silêncio sobre si mesmo, à espera que alguém se lembre que aqui vivem pessoas que têm vidas como todas as outras, que têm problemas, que têm necessidades, que não são apenas um número irrisório de eleitores que pouco “aquenta” ou “arrefenta” na hora de fazer as contas.
O que somos, afinal? Para onde caminhamos?
Somos terra de ninguém?! Ou não somos…

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

É preciso fazer ouvir o "Grito" da Guarda...

Caras e Caros Amigos (as),

Partilho convosco a reflexão que tive ocasião de fazer na Assembleia Municipal da Guarda do passado dia 28 de Setembro de 2012:


«Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia Municipal da Guarda,
Ex.mos Senhores Secretários,
Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal da Guarda,
Senhoras e Senhores Vereadores,
Senhoras e Senhores Deputados Municipais,
Senhoras e Senhores Presidentes de Junta,
Senhoras e Senhores Munícipes,
Comunicação Social presente,
 
Num momento particularmente difícil para o país, para a região e para a cidade da Guarda entendi ser este o local indicado para, publicamente, em meu nome pessoal e em nome da Freguesia de Gonçalo que aqui represento, manifestar os meus sentimentos mais profundos de grande angústia, de grande desilusão e de uma inigualável falta de esperança no tempo presente que vivemos e no amargurado tempo futuro em que havemos de continuar a viver.
Não venho aqui falar de partidos e nem tão pouco ouso falar da política. Prefiro, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, vir falar das pessoas e vir falar, também, das políticas que todos temos obrigação de construir, de engendrar, para a sua proteção e defesa.
A verdade é que enquanto muitas vezes nós discutimos aqui (eu também me incluo) pequenas querelas de pasquim que bem resumidas, no fim, apenas servem para queimar este ou aquele ou para elevar outro ou aqueloutro, enquanto isso, lá fora, no mundo das pessoas, acontece a miséria, acontece o suicídio desesperado, acontece o desemprego sem solução, fecham mais umas tantas empresas que não aguentam mais impostos, nascem crianças sem se saber muito bem com que futuro, desistem jovens de carreiras académicas, que podiam até ser brilhantes, por falta de condições financeiras da família, esmorecem idosos, moribundos, numa silenciosa revolta contra um Estado que não lhe garante uma proteção social minimamente decente.
E nós? O que fazemos nós, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados?
Continuamos, sossegadamente, a entreter-nos nestas discussões político partidárias tantas vezes vazias de conteúdo, tantas vezes inúteis para a resolução dos problemas das pessoas que votaram em nós e que nos elegeram para estarmos aqui.
Mas nós, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, somos capazes de discutir uma vírgula ou um acento durante horas a fio. Somos capazes de pedir defesas da honra, direitos de resposta e sei lá mais o quê só porque, caprichosamente, temos que ser, uns o poder e os outros a oposição.
E as pessoas? E os problemas que nós vemos e sabemos que as pessoas sentem lá fora? O que temos feito de positivo para ajudar as pessoas a ultrapassar os seus problemas? Digam-me, Senhoras e Senhores Deputados, digam-me o que temos feito!
Quantas propostas de solução para os problemas das pessoas da Guarda foram já cordial e unanimemente discutidas pelo poder e pela oposição? Quantas soluções para os problemas dos cidadãos foram já tratadas e discutidas nesta Assembleia a pensar primeiramente nas pessoas, relegando para segundo plano os interesses partidários?
Lamento ter que dizer isto assim desta forma, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, mas esta Assembleia reflete bem o estado de uma cidade e de um concelho incapaz de levantar uma bandeira, incapaz de agarrar uma causa e de se bater por ela contra qualquer governo e contra qualquer partido.
Penso que chegou a hora, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, de assumirmos de vez uma posição de força relativamente a tudo aquilo que de negativo nos tem vindo a ser imposto pelos sucessivos governos deste Portugal democrático.
Não podemos continuar a enfiar discretamente a cabeça na areia e a ignorar o sofrimento das pessoas e das famílias desta terra.
Não podemos olhar para os desempregados da antiga “Delphi” que vão ficar sem subsídio de desemprego a curto prazo e dizer, simplesmente: – “paciência!”; não podemos admitir que o comércio e as pequenas empresas, geradoras dos poucos postos de trabalho existentes, continuem a encerrar e dizer, apenas: – “hão-de vir dias melhores!”; não podemos assistir à extinção de freguesias rurais, último reduto da presença da administração junto das populações e dizer: – “também, já eram tão poucos!”; não podemos assistir passivamente ao esvaziamento de serviços do meio rural e da cidade, justificando: - “também, hoje, com a internet está tudo à distância de um clique!”; não podemos assistir calados a um abandono por parte do Governo do Projeto da PLIE, justificando: - “o que vale é que Salamanca e Aveiro se hão-de entender!”; não podemos admitir que um novo hospital ou um hospital novo esteja eternamente na iminência de abrir as portas ao serviço dos utentes que dele necessitam e dizer: - “mais dia, menos dia ele há-de abrir, quem esperou tanto também pode esperar mais um pouco!”; não podemos admitir que uns tantos tecnocratas habituais do regime venham apontar o encerramento da maternidade da Guarda e dizer: - “não há problema, o que vale a Covilhã fica perto, o pior mesmo são as portagens da A23!”;
Não podemos continuar a engolir este silêncio angustiante que mostra a Guarda como uma cidade sem vida, como uma cidade sem gente capaz de elevar bem alto um grito unanime de revolta, com tudo aquilo que nos está a acontecer!
E não é só ao Presidente da Câmara, aos do poder, aos da oposição, aos Deputados eleitos pelo distrito (que já nem sei bem se ainda existe) que cabe levantar a voz. Este grito da Guarda é responsabilidade de todos e de cada um de nós, cidadãos desta cidade e deste concelho.
E não se trata de gritar contra este Governo, contra o Governo anterior, contra a Assembleia da República, contra o Presidente, trata-se, isso sim, de conseguir dar “um murro na mesa” mostrando que estamos todos unidos por uma única causa: as pessoas da Guarda.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, não me quero alongar mais nesta minha intervenção, mas o momento é de particular sensibilidade.
Temo que com o aproximar das lutas autárquicas, todos, (digo, todos) possamos ceder à tentação fácil de olharmos demasiado para o que é acessório e de desvalorizarmos aquilo que é essencial para as pessoas.
É por isso que este é o momento certo para todos erguermos a voz. É o momento certo para mostrarmos que não somos gente conformada.
Saibamos nós unir esforços e afinar as vozes e o grito da Guarda há-de ouvir-se junto do povo e ecoar no terreiro do paço.
Pelas pessoas da Guarda mostremos, todos juntos, que ainda vale a pena acreditar em quem elegemos, em quem nos representa, na política e nos políticos…

Muito Obrigado!

Pedro Miguel da Silva Pires
Presidente da Junta de Freguesia de Gonçalo »