terça-feira, 3 de abril de 2012

Ei-los que partem... In Memoriam 1


Foi com imensa tristeza que vi partir no passado dia 11 de Fevereiro a nossa conterrânea Ana Alexandrina de Matos Carvalhinho, conhecida entre nós como "Aninha Balota" (assim a chamávamos com carinho).
Confesso que sempre olhei para Aninha Balota com profunda admiração, embora, em vida, nunca tenha tido a oportunidade certa de lho confessar.
Militante do PCP - Partido Comunista Português, a que aderiu desde a primeira hora, lutou como tantos outros militantes comunistas de Gonçalo pela Liberdade e pela Democracia, em tempos em que poucos tinham coragem de assumir convicções, muito menos as mulheres que, por regra, estavam,  desde logo, arredadas da política... e do simples direito de opinião.
Mas Aninha era diferente. Era uma jovem mulher consciente da sociedade em que vivia. E, sabia que muito havia que mudar na fechada sociedade salazarista.
Quando muitos se calavam por medo e por cobardia, Aninha Balota e os seus camaradas de partido erguiam a voz e diziam ao povo operário de Gonçalo que era preciso lutar pelos valores da Liberdade e da Democracia.
Eu não era vivo nesse tempo, mas imagino a genica desta mulher, praticamente sozinha, no meio de tantos homens a fazer política... a passar palavra... certamente a distribuir o "Avante" e no sigilo da noite a tentar sintonizar e ouvir os ecos da "Radio Moscovo".
Mais tarde, recordo Aninha sempre de cravo na lapela, nas manifestações (infelizmente agora adormecidas) do 25 de Abril e do 1º de Maio que, em cada ano, metiam foguetes, arruadas e provas desportivas para o povo...
Infelizmente, aos 84 anos de idade Aninha partiu, mas pela sua coragem e pela ousadia das suas ações,  num tempo em que quase tudo era vedado às mulheres, muito mais a participação cívica e política, ficará, certamente, na memória dos Gonçalenses...
Pelo menos ficará na minha memória... como uma mulher de coragem que não teve medo de enfrentar o regime para falar aos outros de liberdade e de democracia.
Tenho pena que Aninha tenha partido sem que eu tivesse tido a oportunidade de lhe dizer estas palavras que hoje, aqui, partilho convosco no Olival do Corro.

Pedro Pires