Partilho convosco a reflexão que tive ocasião de fazer na Assembleia Municipal da Guarda do passado dia 28 de Setembro de 2012:
«Ex.mo
Senhor Presidente da Assembleia Municipal da Guarda,
Ex.mos
Senhores Secretários,
Ex.mo
Senhor Presidente da Câmara Municipal da Guarda,
Senhoras
e Senhores Vereadores,
Senhoras
e Senhores Deputados Municipais,
Senhoras
e Senhores Presidentes de Junta,
Senhoras
e Senhores Munícipes,
Comunicação
Social presente,
Num
momento particularmente difícil para o país, para a região e para a cidade da
Guarda entendi ser este o local indicado para, publicamente, em meu nome
pessoal e em nome da Freguesia de Gonçalo que aqui represento, manifestar os
meus sentimentos mais profundos de grande angústia, de grande desilusão e de
uma inigualável falta de esperança no tempo presente que vivemos e no
amargurado tempo futuro em que havemos de continuar a viver.
Não venho
aqui falar de partidos e nem tão pouco ouso falar da política. Prefiro, Senhor
Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, vir falar das pessoas e vir falar,
também, das políticas que todos temos obrigação de construir, de engendrar,
para a sua proteção e defesa.
A
verdade é que enquanto muitas vezes nós discutimos aqui (eu também me incluo)
pequenas querelas de pasquim que bem resumidas, no fim, apenas servem para
queimar este ou aquele ou para elevar outro ou aqueloutro, enquanto isso, lá
fora, no mundo das pessoas, acontece a miséria, acontece o suicídio
desesperado, acontece o desemprego sem solução, fecham mais umas tantas
empresas que não aguentam mais impostos, nascem crianças sem se saber muito bem
com que futuro, desistem jovens de carreiras académicas, que podiam até ser
brilhantes, por falta de condições financeiras da família, esmorecem idosos,
moribundos, numa silenciosa revolta contra um Estado que não lhe garante uma
proteção social minimamente decente.
E
nós? O que fazemos nós, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados?
Continuamos,
sossegadamente, a entreter-nos nestas discussões político partidárias tantas
vezes vazias de conteúdo, tantas vezes inúteis para a resolução dos problemas
das pessoas que votaram em nós e que nos elegeram para estarmos aqui.
Mas
nós, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, somos capazes de
discutir uma vírgula ou um acento durante horas a fio. Somos capazes de pedir
defesas da honra, direitos de resposta e sei lá mais o quê só porque, caprichosamente,
temos que ser, uns o poder e os outros a oposição.
E as
pessoas? E os problemas que nós vemos e sabemos que as pessoas sentem lá fora?
O que temos feito de positivo para ajudar as pessoas a ultrapassar os seus
problemas? Digam-me, Senhoras e Senhores Deputados, digam-me o que temos feito!
Quantas
propostas de solução para os problemas das pessoas da Guarda foram já cordial e
unanimemente discutidas pelo poder e pela oposição? Quantas soluções para os
problemas dos cidadãos foram já tratadas e discutidas nesta Assembleia a pensar
primeiramente nas pessoas, relegando para segundo plano os interesses
partidários?
Lamento
ter que dizer isto assim desta forma, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores
Deputados, mas esta Assembleia reflete bem o estado de uma cidade e de um
concelho incapaz de levantar uma bandeira, incapaz de agarrar uma causa e de se
bater por ela contra qualquer governo e contra qualquer partido.
Penso
que chegou a hora, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, de
assumirmos de vez uma posição de força relativamente a tudo aquilo que de
negativo nos tem vindo a ser imposto pelos sucessivos governos deste Portugal
democrático.
Não
podemos continuar a enfiar discretamente a cabeça na areia e a ignorar o sofrimento
das pessoas e das famílias desta terra.
Não
podemos olhar para os desempregados da antiga “Delphi” que vão ficar sem
subsídio de desemprego a curto prazo e dizer, simplesmente: – “paciência!”; não
podemos admitir que o comércio e as pequenas empresas, geradoras dos poucos
postos de trabalho existentes, continuem a encerrar e dizer, apenas: – “hão-de
vir dias melhores!”; não podemos assistir à extinção de freguesias rurais,
último reduto da presença da administração junto das populações e dizer: – “também,
já eram tão poucos!”; não podemos assistir passivamente ao esvaziamento de
serviços do meio rural e da cidade, justificando: - “também, hoje, com a
internet está tudo à distância de um clique!”; não podemos assistir calados a
um abandono por parte do Governo do Projeto da PLIE, justificando: - “o que
vale é que Salamanca e Aveiro se hão-de entender!”; não podemos admitir que um
novo hospital ou um hospital novo esteja eternamente na iminência de abrir as
portas ao serviço dos utentes que dele necessitam e dizer: - “mais dia, menos
dia ele há-de abrir, quem esperou tanto também pode esperar mais um pouco!”;
não podemos admitir que uns tantos tecnocratas habituais do regime venham
apontar o encerramento da maternidade da Guarda e dizer: - “não há problema, o
que vale a Covilhã fica perto, o pior mesmo são as portagens da A23!”;
Não
podemos continuar a engolir este silêncio angustiante que mostra a Guarda como
uma cidade sem vida, como uma cidade sem gente capaz de elevar bem alto um
grito unanime de revolta, com tudo aquilo que nos está a acontecer!
E não
é só ao Presidente da Câmara, aos do poder, aos da oposição, aos Deputados
eleitos pelo distrito (que já nem sei bem se ainda existe) que cabe levantar a
voz. Este grito da Guarda é responsabilidade de todos e de cada um de nós,
cidadãos desta cidade e deste concelho.
E não
se trata de gritar contra este Governo, contra o Governo anterior, contra a
Assembleia da República, contra o Presidente, trata-se, isso sim, de conseguir
dar “um murro na mesa” mostrando que estamos todos unidos por uma única causa:
as pessoas da Guarda.
Senhor
Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, não me quero alongar mais nesta
minha intervenção, mas o momento é de particular sensibilidade.
Temo
que com o aproximar das lutas autárquicas, todos, (digo, todos) possamos ceder
à tentação fácil de olharmos demasiado para o que é acessório e de desvalorizarmos
aquilo que é essencial para as pessoas.
É por
isso que este é o momento certo para todos erguermos a voz. É o momento certo
para mostrarmos que não somos gente conformada.
Saibamos
nós unir esforços e afinar as vozes e o grito da Guarda há-de ouvir-se junto do
povo e ecoar no terreiro do paço.
Pelas
pessoas da Guarda mostremos, todos juntos, que ainda vale a pena acreditar em
quem elegemos, em quem nos representa, na política e nos políticos…
Muito
Obrigado!
Pedro Miguel da Silva Pires
Presidente da Junta de Freguesia de Gonçalo »
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