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Procissão de N.Sra. da Misericórdia (08.09.2010) - Foto Jorge Carvalhinho |
Desde o final de Agosto que foi grande a azafama, aqui, no largo. Ele foi montar o palco, as barraquinhas de apoio, a Quermesse e tantos outros apetrechos que são necessários para que a nossa Festa de Setembro aconteça... enfim, uma semana agitada que fez, desde logo, notar que era tempo de Festa na terra...
Depois, foi a vez de surgirem os primeiros cartazes com o programa das Festas e com eles a primeira leva de críticas e comentários... nada de muito anormal! Afinal de contas, as críticas e os comentários também fazem parte da Festa!...
E...num abrir e fechar de olhos a Festa de Setembro começou e terminou... Foram cinco dias de muita animação e convívio. Aqui o largo esteve sempre bem composto de gente (mas,claro, o sábado foi de longe o melhor dia!)
Na verdade a Festa de Nossa Senhora da Misericórdia demonstrou ser aquilo que sempre foi. Momento alto da vida da terra... e com mais ou menos dose de "tradição", com banda de música e sem foguetes porque estamos em época de grande probabilidade de incêndios (e não fossem os Bombeiros co-organizadores das Festividades!) a verdade é que os Gonçalenses (pelo menos alguns) puderam conviver, puderam divertir-se e puderam sentir junto da imagem de Nossa Senhora e durante as cerimónias religiosas o calor da sua fé que, não raras vezes, lhes serve de acalento da alma...
Naturalmente que estão de parabéns as colectividades da nossa terra (Sport Clube Gonçalense e Bombeiros Voluntários de Gonçalo) que, no curto espaço de apenas 15 dias, conseguiram organizar com muita dignidade, dedicação e algum sacrifício a nossa Festa de Setembro.
Como em tudo na vida, também agora é preciso olhar para trás e fazer um balanço daquilo que correu bem e daquilo que, porventura, correu mal.
Nós por cá achamos que o programa das Festas foi um programa muito digno da nossa terra e que em nada envergonhou a alma Gonçalense...
Há, no entanto, para aí muito quem fale e muito quem critique, mas a ver vamos se para o ano que vem também haverá muito quem faça e proponha, com mais ou menos "tradição", com andor em verga ou com o andor das bolinhas, com santos ou sem santos dos bairros a acompanhar a procissão, com mais conjuntos ou menos conjuntos, com mais artistas ou mesnos artistas...enfim, cá ficaremos a aguardar pelo momento fulcral em que os grupos de amigos, familiares ou conhecidos deixem de falar, discutir e debater se a crise de mordomos para a Festa de Setembro se deve, verdadeiramente, às ditas "alterações à tradição" ou a um profundo laxismo e a uma desmesurada acomodação que vão graçando entre alguma da nossa gente...
Tendo em conta a hipocrisia de alguns comentarios e de algumas críticas que temos vindo a ouvir, poderíamos mesmo afirmar que a crise de mordomos para a Festa pode, isso sim e muito bem, ter origem nesse sentimento de algum receio das críticas e dos comentários saloios que muitos vão atirando para o ar e que, muitas vezes, demasiadas vezes, magoam e ofendem aqueles que sacrificam as suas vidas e o espaço das suas famílias para proporcionar à comunidade o divertimento, o convívio e a festa!
Comentários como: "que raio de banda tão pequena, até é uma vergonha para uma terra destas" ou ainda: "não me digas que estás cansado! Vê lá se não estás mas é abafado com o fumo dos foguetes" ou melhor "que raio de andor que parece um caixão! Pode ser que sirva para levar lá dentro quem o encomendou" - Quando se atiram para o ar palavras tão loucas (Meu Deus!), torna-se muito difícil, acreditem, fazer (como o ditado diz) orelhas mocas.
É, pois, por isso que exprimo, aqui e agora, no Olival do Corro a minha opinião. Será que vale assim tanto a pena discutir e debater a problemática da Festa de Nossa Senhora da Misericórdia?! Será que a tal "problemática" não começa logo na necessidade de uma verdadeira revolução na mentalidade da nossa gente?!
Outr'ora destacámo-nos de todas as terras, terrinhas, cidades e cidadezinhas... pela abertura do nosso espírito e pela vanguarda do nosso pensamento, fruto das vivências dos movimentos sazonais com os grandes centros e com o litoral, na comercialização dos nossos cestos...
No presente, tenho que admití-lo, às vezes parecemos uma espécie de "atrasadinhos", fechados dentro de uma redoma e envolvidos por um passado que já não volta e agarrados a "tradições" que contrariam os novos tempos em que vivemos e existimos (Hei! Estamos no Séc.XXI! E já não andamos de burro e nem de carroça!)... E, somos, até, capazes de renegar, imagine-se, a nossa arte... a nossa identidade... Ou será que não é isso que fazemos quando rejeitamos os andores em verga?! Não poderá a nossa fé e a nossa religião estar ao serviço da promoção da nossa arte, da nossa identidade de cesteiros?!
Perdoem-me a franqueza, mas sinto-me por demais magoado e ofendido (eu tantos outros que trabalham todos os dias com afinco e dedicação) com más palavras que o vento há-de levar, mas que o coração, esse, pelo amor à terra, não deixará de sentir!
O futuro é sempre incerto, por vezes demasiado incerto, mas pensamos que é chegado o momento de, também nós, podermos avaliar, construtivamente, o trabalho de outros... assim haja gente que se proponha a falar menos, a perder demasiado tempo em aspectos irrelevantes e a fazer mais... a fazer mais com "F" grande... a fazer de verdade alguma coisa pela sobrevivência da nossa Festa.
E não vale a pena tentar atirar para o ar os argumentos do costume... porque a Festa será aquilo que quem a organizar quiser... e decorrerá da forma como quem a organizar quiser... Aliás, as inovações das últimas comissões são a real prova disso mesmo!
Até lá, o meu espírito ficará tranquilo e nem sequer me preocuparei com as vozes que vão ecoando pela vila e, naturalmente, também aqui pelo olival do corro, pois como dizia o meu saudoso amigo António Amaral (ferforoso adepto da demonstração da nossa arte nos nossos andores e da mudança da festa para o fim-de-semana): "os críticos são sempre os mesmos...e são poucos...apenas tentam gritar mais alto para se fazerem ouvir e parecerem muitos..."
Acho que vale, realmente, a pena pensar nisto...
Fiquem bem...
Saudações Cordiais e Amigas, a partir do nosso Olival do Corro,
Pedro Pires
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