segunda-feira, 5 de julho de 2010

VEM AÍ MAIS UMA FESTA DE NOSSA SENHORA DA MISERICÓRDIA


Vem aí mais uma Festa em honra e louvor de Nossa Senhora da Misericórdia (a grande Festa da terra, por excelência).
Longe vão os tempos em que a malta nova se reunia, por vezes com um ano de antecedência, para começar a preparar este momento tão alto da vida social e familiar da nossa Vila de Gonçalo.
A Festa da Senhora da Misericórdia sempre foi ponto de encontro para as famílias e para a Família Gonçalense.
Infelizmente, pelo segundo ano consecutivo, não apareceu ninguém com disponibilidade e boa vontade para formar uma comissão organizadora dos tradicionais festejos...
Vale, por enquanto, a generosidade das Colectividades de Gonçalo, Bombeiros Voluntários e Sport Clube Gonçalense que, à última hora, decidiram, mais uma vez, organizar a Festa com o intuito de angariarem uns fundos extra para as suas obras e para os fins sociais que lhes estão inerentes.
E, pronto, afinal sempre temos Festa!
Mas penso que apesar de termos Festa, se impõe uma reflexão muito profunda sobre o modelo da Festa de Setembro (que como todos sabemos há muito está esgotado) e sobre aquilo que todos nós, Gonçalenses, temos a obrigação de fazer pela nossa Festa e pelo bem comum da nossa terra... É que a Festa, assim como tantas outras coisas que se passam cá pela nossa Vila, não deve ser apenas uma preocupação de alguns! A Festa e tantas outras coisas devem ser uma preocupação constante de TODOS!
E, como pessoas preocupadas que devemos ser, temos que começar por fazer uma pergunta a nós próprios: Se é certo que o actual modelo da Festa de Setembro está completamente gasto e ultrapassado, porque será que somos tão avessos à mudança e à inovação que se tem pretendido imprimir?
Naturalmente que é muito mais fácil mantermo-nos à margem das coisas e criticá-las de fora, isso nem tem discussão... mas, porque não nos envolvemos, porque não organizamos, porque não inovamos com o nosso contributo uma Festa que é e terá que ser sempre uma responsabilidade de TODOS?
Há alguns anos, com o propósito de se divulgar a grandeza do nosso artesanato e tendo em vista uma maior participação e envolvimento das pessoas na Festa, decidiu-se fazer um andor em verga para cada uma das imagens da igreja matriz e dedicar cada uma dessas imagens aos vários bairros da Vila.
Naturalmente que essa ideia, porque trazia algo de diferente e de inovador à Festa, mereceu duras críticas pelos comentadores de sempre, quais treinadores de bancada, que nunca sabemos muito bem qual a equipa que comentam (ou gostariam de treinar), se a dos outros ou a deles próprios...
Claro que também houve crítica construtiva, vinda de gente séria e bem formada que não se quis prestar a simples comentários brejeiros, assumindo, portanto, as suas convicções e as suas posições, de forma clara e frontal, independentemente da sua posição mais ou menos favorável à ideia posta em prática e que, parece-me, foi bem aceite pela grande maioria dos Gonçalenses...
Mas a chuva de críticas repetiu-se, mais tarde, aquando da introdução do novo andor de Nossa Senhora da Misericórdia, um belo exemplar em verga e vime, bem representativo da arte e dos artistas da nossa terra!
Haverá, por ventura, quem receie as críticas e os comentários. Eu, no entanto, não sou desses... E, por isso, fui daqueles que assumi as minhas responsabilidades pessoais e institucionais no momento em que se entendeu que havia que inovar a nossa Festa e promover, ao mesmo tempo, o nosso artesanato numa procissão que atrai tanta gente e de tantos lugares à nossa Vila de Gonçalo... É verdade que "velhos do Restelo" há por aí muitos, tenho pena que alguns sejam, até, velhos-novos, porque afinal os verdadeiros "velhos" de Gonçalo são já eles próprios, com a sua experiência de vida e com a sua sabedoria os maiores apoiantes da mudança e da inovação na Festa de Setembro!
Sempre direi, no entanto, que à nossa atitude de Gonçalenses, perante a procissão de velas do dia 7 de Setembro, tem faltado (e muito) o fervor da Fé e o sentimento de verdadeiro amor a Nossa Senhora da Misericórdia, o que leva a que, muitas vezes, demasiadas vezes, vivamos o momento como se estivéssemos a assistir a um qualquer espectáculo ou encenação teatral. A procissão de velas de Nossa Senhora da Misericórdia, tal como todas as procissões, é um acto público de manifestação da nossa Fé... E para a manifestação da nossa Fé não se contabilizam as contendas em torno de tradições (ou pseudo tradições) que alguns (felizmente poucos) vão tentando alimentar desta ou daquela maneira, com este ou com aquele comentário...
A Festa não é momento de divisão, a Festa é espaço de confraternização e amizade, é o ponto de encontro, tantas vezes aguardado por cada um de nós, Gonçalenses...
Os últimos anos têm sido ensombrados (não vale a pena dizer que não) por ditos e mexericos e por críticas ferozes àqueles que, por agora, não vão desistindo de trabalhar em prol de uma causa que é de todos... a nossa Festa!
A evolução e a mudança das coisas têm sido características da Festa de Setembro dos últimos anos, assim como a resistência a essa mudança, tantas vezes feita com recurso a argumentos que para mais não servem senão para demonstrar a nossa ignorância e a nossa pequenez disfarçadas de um certo "chico-espertismo" balofo.
Eu cá sou pela reestruturação urgente e profunda do calendário da nossa Festa! Por mim a Festa há muito que já deveria ser num fim de semana! Há muito que a Festa de alguns (que têm a sorte de ter férias nos dias 7 e 8 de Setembro) já tinha sido transformada na Festa de TODOS!
Acho, sinceramente, que falta dar este passo importante para que a nossa Festa de Setembro possa ser a Festa rija de outros tempos...
Senão vejamos. Que significado tem a Festa de Setembro para aqueles que vão à procissão no dia 7 e que, depois, lá para a uma da manhã têm que ir (contrariados é certo) para o seu descanso, já que no dia a seguir, o verdadeiro dia da Festa, têm que labutar o dia todo... Que tristeza deve pairar no coração daqueles Gonçalenses que, no dia da Festa da sua terra, lá seguem de autocarro para as fábricas enquanto ouvem a banda da música a tocar para ruas vazias e os foguetes a rebentar para meia dúzia de jovens resistentes da noitada do dia 7 (que aliás era também ela uma tradição).
E por falar em tradição... Será que o valor da tradição se pode deixar sobrepor à realidade social que vivemos na Vila de Gonçalo do Séc.XXI?
Muitos vão justificando a causa atirando para o ar aqueles argumentos ridículos de sempre: "Tu não comemoras os teus anos no dia em que fazes anos?" ou então: "Mudar a Festa! Nem pensar! Tradição é tradição!".
Mas eu pergunto: O que é afinal a tradição?! Poderemos nós viver de tradições que limitem a nossa condição de seres humanos que gostam de conviver e socializar?! Será que temos o direito de cortar a tantos e tantos Gonçalenses a possibilidade de viverem e sentirem a Festa de Nossa Senhora da Misericórdia?!
Àqueles que continuam com ideia fisgada deste modelo de Festa que é só para alguns e àqueles que deixam que uma "mania" (é no fundo disso que se trata) a que chamam de tradição se sobreponha ao bem-estar e à participação de todos os Gonçalenses na Festa de Setembro eu tenho o direito de chamar EGOÍSTAS!
Penso, pois, muito sinceramente, que chegou a hora... Chegou a hora de mudarmos de uma vez por todas a nossa Festa para o primeiro fim de semana de Setembro, transformando a sexta-feira em dia 7, o sábado em dia 8 e o Domingo em dia 9. Três dias de Festa que nestes moldes permitirão o convívio e a confraternização de todos os Gonçalenses...
Sinto cá por dentro esta força de mudança da Festa porque foram as palavras que mais me tocaram ao longo do peditório deste ano. Já não é uma nem são duas nem são dez pessoas a pensar assim e a pedirem a mudança da Festa. Sinto que nem são dezenas e nem tão pouco centenas, mas pelo menos um milhar de Gonçalenses que anseiam, com muita tristeza e mágoa, mas ao mesmo tempo com esperança pela mudança da Festa para o fim de semana!
É tempo de nos unirmos em torno de uma causa que é de todos! É tempo de darmos voz aos sentimentos que nos vão na alma! Não deixemos que meia dúzia de vozes dissonantes (que são quase sempre as mesmas) consigam elevar mais alto a sua posição mesquinha! Está na hora de todos nós, os que pensamos em silêncio manifestarmos e tornarmos público que à custa do egoísmo de alguns a nossa Festa se encontra moribunda! Estou certo que uma boa parte desta crise de voluntariado para fazer a Festa se deve, indubitavelmente, ao facto de a nossa Festa não ser realizada ao fim de semana! O tempo nos há-de (ou não) dar razão!
Mas... A Festa tem que ser tempo de paz, de amizade e de concórdia...
Deixemos esta discussão para depois dos festejos...
Até lá, caras e caros amigos Gonçalenses, votos de uma Festa de Nossa Senhora da Misericórdia muito alegre para todos!
Boa Festa!
Uma palavra de incentivo ao Sport Clube Gonçalense e aos Bombeiros Voluntários de Gonçalo pela iniciativa... Só demonstram união e camaradagem... Bom trabalho!
Pedro Pires, 2010.08.25

2 comentários:

  1. Estava a ver que nunca mais. Venha a Festa ao final de semana que a maioria assina por baixo.

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  2. Muito bom.. Sem nada a acrescentar.
    Este texto devia correr a vila de Gonçalo, iria abrir os olhos a muito boa gente.

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